Década de 90 e eu trabalhando como
gerente comercial de um grupo de emissoras de rádio de Ribeirão. Era o ó!
Faturamento baixíssimo, em consequência de uma programação inconsistente, que
dava pouca audiência. Sugeri que passássemos a apoiar espetáculos teatrais e
shows. Teríamos nossa marca em outras mídias e poderíamos melhorar a venda dos
espaços.
Deu muito trabalho, mas foi muito
divertido. Divertido e melhor, deu resultado! Faturamento subiu 200%.
Fechamos esse show, entre 94 e
95. O empresário que veio acertar a parceria era um chato e a produtora que
chegou dois dias antes do artista, fazia a linha “chato sobe nela e desce se
coçando”.
O primeiro “piti” da mala, foi na
reunião com o Buffet que, diga-se de passagem, foi um custo conseguir.
- Ele querrrr comida árabe. Kibissss,
Isssfîirrassss, tabule, babaganuche. Tudo em piquenasss porrrções.
Além daquele sotaque carioca dos
mais enjoados, ela mostrava com as mãos o tamanho das malditas "pequenas
porções". A dona do Buffet declinou. Disse que não daria conta do serviço.
Ou da chatice? Eterna dúvida.
Foi um perrengue conseguir um
restaurante árabe que topasse fazer permuta com a emissora.
No dia do Show, o tal cantor
chegou e se instalou no extinto Holiday Inn. Não trocou palavra com qualquer
pessoa. Mal humorado, de óculos escuros e um bico que ocupava 70% da cara, seguiu
pra Cava do Bosque para passar o som.
Nessa altura, o mobiliário do
camarim já estava montado: Sofás azuis, tapete persa (exigência do tal),
espelho enorme, arara para pendurar o figurino.
Eu mesma supervisionei a montagem
para ter certeza de que tudo estava certo. Mal entrei em casa para almoçar, meu
celular “PT950 Tijolo” tocou. Era a produtora:
- O camarim não issssstá bommmmm
!!!
- Não? O que houve?
- Falta uma mesa grande,
retangular, coberta com toalhiasssss brancaissssssss (ai sotaque maldito).
Precisa ser inssstalada encossssstada na parede.
- Ok, vou pedir para
providenciar. Agora, se for para colocar as comidas, o restaurante vai montar a
estrutura num outro espaço....
- Náaaooo !! É que ele pricisa
colocar seusssss bichinhusssss de pelúcia.
- ???? Não ousei comentar.
E lá fui eu, sem comer, pra Cava providenciar
a montagem da tal mesa.
Depois de pronto, a produtora
mala entrou com malas e sacolas e depositou sobre a mesa uma quantidade
infinita de ursinhos, coelhos, cachorros, carrinhos, bonecas, canequinhas da
Xuxa, escovinhas de dente, gatinhos, carrinhos matchbox, foguetes,
trenzinhos....
Arrumou tudo com cuidado, olhou
pra mim – até com certa doçura - e
justificou:
- Ele precisa disso pra se
coincentrarrrr. Abraça todusssss, precisa ver! Dá enerrrgia, sabe????
- Ahã !! - Imagine a minha cara.
Já estava de saída, quando ela
entrou em pânico:
-MELDELS, missssssquici da
Barrrrrrrrrbie. Ele vai me matar.....
E lá fomos nós, correndo em pleno
sábado, já meio de tarde, em busca de uma Barbie para evitar um “piti” e quiçá
o cancelamento do show. O homem era nervoso, bênhe!
A noite, fiquei na entrada dos
camarins, na esperança (depois de tanto trabalho e perturbação) de ver de perto
o artista em questão. Até hoje me pergunto por onde foi que ele entrou. Não
vimos nada.
Enquanto rolava o show, entramos
no camarim para ver se tudo estava de acordo. Ele ia comer depois da
apresentação- checamos todo o cardápio, tudo perfeitamente acomodado em “piquenas
porrrrçõiiiis”.
A mesa com os bichinhos estava
desarrumada. Havia pelúcia no chão, no sofá, no tapete. Na arara três Hobbies
de Chambre: um azul escuro, com estampas miúdas (acho que eram florzinhas) em
vermelho, um branco atoalhado e um rosa pink de cetim. Simmm!!! E todos eles
tinham uma pantufa combinando.
Dentro da Cava o cara interagia
de forma íntima – pra não ser grosseira e dizer: Se esfregava - no palco com um
dos músicos, especialmente convidado para a ocasião. O mesmo que, alguns meses
depois, foi lançado na mídia cantando baladinha de verão romântica. A carreira
não decolou.
Fim de show, corremos de volta à porta do camarim. Ele saiu
pelo mesmo lugar que entrou, ou seja: não faço a menor ideia de como.
- Possivelmente a bordo do
foguetinho que habitava a mesa dos brinquedos, pensei!
Entramos: Nenhum bichinho, nenhum
hobby.
Abandonadas, num canto já escuro,
as malditas “pequenas porções” de comida árabe ainda com o filme transparente
por cima, intactas!
Quando um certo alguém cruzou o
teu caminho, tudo bem meu bem. Tudo sem força e direção!!
E no Brasil sol de norte a sul.
Se é que você me entende.