Foto Revide, edição 593. Fevereiro 2012 |
Quando me ligaram fazendo o convite para a entrevista da
Revide em que a pauta seria a superação do câncer de mama, fiquei feliz com a
oportunidade de falar, mais uma vez, publicamente sobre o assunto.
Acho muito importante mostrar pras pessoas a minha visão e
se não pudesse fazer isso de forma positiva, não conseguiria ver razão e
serventia na minha doença.
Claro que eu sabia que a revista seria lida por milhares de
pessoas e que acabaria sendo assunto por alguns dias, mas de verdade, não
imaginei o quanto tudo isso iria mexer comigo.
Já na sexta-feira recebi a primeira mensagem no celular
antes das 10hs da manhã. Pronto!! A Revista estava nas ruas. De lá pra cá,
todos os dias, recebo ligações, mensagens no celular, no Face e no Twitter. Sou
abordada por pessoas que não conheço e surpreendida por amigos recentes que não
sabiam dessa parte da minha jornada nessa vida.
São manifestações lindas, que me emocionam e me levam às
lágrimas.
Desde então, tenho me questionado se mereço mesmo todo esse
reconhecimento.
Não entenda isso como “falsa modéstia”. É só uma reflexão.
Pra mim, podem acreditar, não foi assim tão difícil. Não
enquanto eu passava pelo problema. Acho que minha postura prática com a vida me
ajudou muito. Li os depoimentos das minhas colegas de capa e me dei conta que
as mudanças interiores que tive se devem muito mais a vida como um todo, do que
exatamente pela doença em si.
Não tive um interruptor que foi acionado e de repente a vida
ficou diferente. Aliás, me cobrei sobre isso na época.
- Como assim? Eu deveria me sentir renascendo... eu deveria
ver a vida com outros olhos... eu deveria ser transformada !!! Num click.
Não fui. Ao longo dos anos, as coisas foram se modificando.
E agora eu me pergunto:
- Foi a doença ou a vida como um todo?
- Foi a doença ou as experiências emocionais? As
experiências emocionais foram em decorrência da doença ou vice- versa.
SENHOR!!! Nunca parei pra refletir sobre essas perguntas que
me faço agora.
Uma coisa é fato: tratei tudo com muita simplicidade e sem
dramalhões. Não tenho vocação para Maria do Bairro.
O que veio depois, quase me transformou numa pessoa amarga,
sem esperanças mas não vitimizada. Até porque abomino a “síndrome do ai de
mim”.
Algumas coisas não foram tratadas na entrevista, porque uma
questão de foco. E de espaço também, claro.
Não é fácil o depois. Mas é totalmente possível.
Ser tratada como doente numa entrevista de emprego é
humilhante quando se tem um currículo bacana. Provavelmente infinitamente
melhor do que o entrevistador.
Algumas pessoas não enxergaram o talento por baixo do lenço
que cobria minha cabeça careca.
Ser tratada com desrespeito, disfarçado de amor cuidadoso,
pelo parceiro que faz do seu drama pessoal a moeda de troca da afetividade, é
também humilhante. Paralisante, eu diria. Ouvir nas entrelinhas das discussões:
- Se contente com isso, sem um seio, homem nenhum vai te
querer !!!
É dolorido e pode ser definitivo na sua auto-estima.
Mas, tem o outro lado:
A amiga que não te vê há anos, te liga e te oferece um
trabalho pra fazer aquilo que você sonhou a vida toda. A amiga que dobra o seu
salário depois de um mês de trabalho, porque você é melhor do que ela podia
imaginar! A amiga que te dá a oportunidade de aprender outra função que vai
fazer a maior diferença no resto da sua vida. Ela existe. Ela é maravilhosa e
justa. Ela é Nanci Gil, a quem sou eternamente grata.
O amor que um dia, ainda como seu amigo – depois de ouvir
você reclamando muito da vida e das dificuldades de relacionamento - te diz;
- O homem que te amar de verdade, vai te amar assim, como
você está. Porque isso é o que você é hoje. Isso faz parte da sua história. E
amar você é amar o todo.
Ele existe e está todos os dias comigo, provando que a fala
dele era real. É o homem que sei que me admira, que sei que me ama, que sei que
estará sempre comigo. Esse homem é o meu grande amor, meu melhor amigo, meu
companheiro delicioso. Meu marido, Jefferson Cassiano.
E sempre, sempre mesmo, tem a família e os amigos. São eles
que ajudam na hora do banho, na hora da comida. São eles que tiram os seus
filhos de casa para você poder descansar tranquilamente. São eles que perdoam
as suas grosserias na hora da dor e o mau humor diante das situações de
incapacidade. Eles são o porto seguro de todas as horas e situações. Eles existem e tem muitos nomes: Vânia, Jaqueline, Daniel, Ferraz, Gustavo....
E de vez em quando, tem uma jornalista linda, fofa,
simpática, compreensiva e muito profissional, que reúne três mulheres numa sala
e faz com elas se sintam celebridade. Ela existe e atende pelo nome de Paula Zuliani.
Salve Paula!
Muito bonito seu depoimento. Parabéns!
ResponderExcluirDesculpa se fui muito mais fraca que você.
Fiz o que pude.
Sua mãe.
Que lindo Cris! Parabéns pela vida e pela forma com que a enfrenta! Bjo
ResponderExcluirPassar por uma experiencia dificil como essa, e não se considerar eterna vitima, e sim vencedora. Saber VIVER depois de tudo. Saber ser amada de verdade, inteira. Ou não!
ResponderExcluirFelicidades e parabéns pela reportagem tão importante para todos, mulheres e companheiros.
Chris querida!
ResponderExcluirJá te admirava pela pessoa que via através do face e
pelo blog!
No meu coração, você ainda continua sendo aquela
"menininha" que eu sempre via na casa ao lado da casa da
Dona Chafika. :)
Só que hoje vejo esta "MULHER" de fibra, batalhadora e
que conseguiu superar tantas coisas...
Te admiro de montão, linda! Deus abençoe a sua vida!
beijo carinhoso,
Neli