Eram ótimos juntos. Mesmo com as
limitações que a condição impunha. Bastava um olhar.
Adotaram a lua como símbolo
daquele amor que como ela, sofria de fases.
A fina sintonia que os unia proporcionava coincidências memoráveis: a
lua aparecia, a canção tocava e os dois se procuravam – mesmo que por telefone.
Foram anos de paixão cultivada
com cuidado, nos pequenos gestos. Quando estavam juntos, a sós, o mundo deixava
de existir. Eram apenas os dois e suas músicas, seus livros, seus filmes, suas
histórias e o amor que se fazia intenso, entregue, único.
Quando estavam acompanhados
tinham seus métodos de conexão. Olhares, sorrisos, palavras soltas entendidas
apenas pelos dois – ou pelo menos acreditavam assim.
Uma noite, convidados para um evento,
perceberam o quanto seria difícil manter a distância necessária. O cenário era
espetacular: um palco montado dentro de um lago, a lua cheia brilhando no céu e
Gilberto Gil em todo seu esplendor cantando alegremente seu vasto repertório.
Ela nem gostava tanto do Gil assim,
ele nunca emitiu opinião sobre o assunto. Pouco importava. Estavam agora, lado
a lado, sozinhos no meio da multidão. As mãos se procuravam para um toque, leve,
mas cheio de sentido, a cada frase cantada que indicasse uma parte da história
dos dois. Olhavam-se sutilmente, meio com o rabo dos olhos e em seguida
levantavam a cabeça de forma absolutamente sincronizada para admirar a lua.
Quando percebiam o gesto, sorriam.
E aí, como se inspirado pelo amor
imenso daqueles dois, no palco Gil entoou “Estrela”:
Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que você sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que você chorar
Uma estrela no céu
Cada vez que você sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que você chorar
O
contrário também
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair
Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair
Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir
Hum!
Deus fará
Absurdos
Contanto que a vida
Seja assim
Sim
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir
Deus fará
Absurdos
Contanto que a vida
Seja assim
Sim
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir
As mãos despreocupadas se
buscaram ávidas pelo contato, os olhares se cruzaram sem disfarce e o tempo
parou por um instante. Envolvidos profundamente nessa troca, quase perderam
parte do espetáculo: No lago, dezenas de estrelas surgiram acesas, formando um
céu particular.
Um instante que ficou impresso naquelas
almas impregnadas de tanta memória, de tanta saudade, de tantas histórias.