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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Gil, a lua, as estrelas e o amor.



Eram ótimos juntos. Mesmo com as limitações que a condição impunha. Bastava um olhar.

Adotaram a lua como símbolo daquele amor que como ela, sofria de fases.  A fina sintonia que os unia proporcionava coincidências memoráveis: a lua aparecia, a canção tocava e os dois se procuravam – mesmo que por telefone.

Foram anos de paixão cultivada com cuidado, nos pequenos gestos. Quando estavam juntos, a sós, o mundo deixava de existir. Eram apenas os dois e suas músicas, seus livros, seus filmes, suas histórias e o amor que se fazia intenso, entregue, único.

Quando estavam acompanhados tinham seus métodos de conexão. Olhares, sorrisos, palavras soltas entendidas apenas pelos dois – ou pelo menos acreditavam assim.

Uma noite, convidados para um evento, perceberam o quanto seria difícil manter a distância necessária. O cenário era espetacular: um palco montado dentro de um lago, a lua cheia brilhando no céu e Gilberto Gil em todo seu esplendor cantando alegremente seu vasto repertório.

Ela nem gostava tanto do Gil assim, ele nunca emitiu opinião sobre o assunto. Pouco importava. Estavam agora, lado a lado, sozinhos no meio da multidão. As mãos se procuravam para um toque, leve, mas cheio de sentido, a cada frase cantada que indicasse uma parte da história dos dois. Olhavam-se sutilmente, meio com o rabo dos olhos e em seguida levantavam a cabeça de forma absolutamente sincronizada para admirar a lua. Quando percebiam o gesto, sorriam.

E aí, como se inspirado pelo amor imenso daqueles dois, no palco Gil entoou “Estrela”:
Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que você sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que você chorar
O contrário também
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair
Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir
Hum!
Deus fará
Absurdos
Contanto que a vida
Seja assim
Sim
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir

As mãos despreocupadas se buscaram ávidas pelo contato, os olhares se cruzaram sem disfarce e o tempo parou por um instante. Envolvidos profundamente nessa troca, quase perderam parte do espetáculo: No lago, dezenas de estrelas surgiram acesas, formando um céu particular.


Um instante que ficou impresso naquelas almas impregnadas de tanta memória, de tanta saudade, de tantas histórias. 

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