Tânia acordou no exato momento em
que Zé Edu entrou no quarto.
Abriu os olhos em tempo de vê-lo
entrar no banheiro. Parecia entorpecido, quase flutuando.
-Desgraçado, pensou.
Foi invadida por um sentimento
perturbador. Não o amava mais como antes, mas não conseguia imaginar sua vida
sem ele. Não tinha mais o mesmo desejo e sabia que ele também não. Aliás, o
dele havia acabo há tempos, mas imaginá-lo nos braços de outra mulher
provocava nela uma ira quase incontrolável.
Teve ímpeto de sentar-se na cama e
esperá-lo como achou que ele merecia: Gritos, cobranças, pedido de explicação
pelo adiantado da hora e pelo cabelo em desalinho. Pensou melhor sobre as
conseqüências da atitude e avaliou não ser essa uma boa ideia.
Pensou em fingir que estava
dormindo e esperar até a manhã seguinte. Precisa manter a calma. A compra do
carro novo, aquele dos sonhos, ainda não tinha se concretizado.
Decidiu por um meio termo.
Ainda de olhos fechados, sentiu
Zé Edu sentar na cama e depois deitar-se. Percebeu quando ele virou de lado.
Nesse momento, ela abriu os olhos a tempo de vê-lo abraçar o travesseiro e
levar a mão ao rosto. Foi aí, que passou o braço pela cintura dela e disse:
- Vou dormir sem um beijo de boa
noite?
- Achei que já estivesse
dormindo, não quis acordá-la.
- Boa noite, Zé. Continue aí,
divagando em seus pensamentos – o tom da voz mostrava total irritação.
Tirou o braço, deitou-se de
bruços e simulou choro sentido. Quando se deu conta de que Zé Edu não havia
percebido, acendeu a luz do abajur e resolveu ler mais um capítulo de Madame
Bovary.
Continua
Continua
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