A primeira lembrança que tenho sobre ela é a de que me
causava estranheza. Era bonita,
extravagante. Sempre acompanhada dos “mais descolados” e menos comprometidos
com as fofoqueiras de plantão. Faziam o que queriam e eu achava o máximo.
Hoje entendo, a estranheza mascarava a inveja. Queria ter
aquela leveza.
Aos poucos ficamos mais próximas e juntas nos divertimos
muito. Hoje penso: muito menos do que eu gostaria.
Depois de alguns anos – passamos uns tempos distantes – a
reencontrei na Ilha Comprida.
Foi uma história engraçada, eu viajando sozinha com o meu
namorado da época (teoricamente com uma turma, para convencer meu pai a me
deixar ir) dou de cara com ela na recepção do hotel. Quase morri do coração.
Tentei disfarçar – coloquei uns óculos imensos e fingi ser outra pessoa. Foram
4 dias de tensão.
Ela, sempre elegante e divertida, entrou no meu jogo e
fingiu não saber quem eu era. Anos depois rimos muito daquilo tudo. Claro que
ela me reconheceu, claro que entendeu na hora o que estava acontecendo, claro
que foi discreta e amiga para deixar passar.
Há uns 15 anos ou mais, voltamos a nos encontrar. Ela ainda casada
com o Antônio, mãe da Yara. Outra mulher. Mais calma menos vaidosa. Ainda
linda, carinhosa e amiga de verdade. Cozinheira maravilhosa, dona de uma casa
acolhedora que íamos todos os dias praticamente: eu, Ferraz e Daniel, o irmão
mais velho.
Ríamos muito. Fazíamos tudo junto.
Quando ela e o Antônio resolveram casar, fui chamada para
madrinha. Não entendi muito bem como ia funcionar o casamento diferente em uma
chácara e acabei chegando atrasada! Tudo bem. Fui recebida com um caloroso
abraço e comemoramos muito do mesmo jeito.
Até que o Antônio se foi. O céu escureceu, ficamos tristes,
perdidos e a Cláudia pareceu morrer pela primeira vez. Não havia nada, durante
um bom tempo, que tirasse aquela tristeza do olhar. Profunda, da alma.
Tentamos tudo para animá-la. Tudo! Aos poucos, um pouquinho dela voltou pra
gente entre um sorriso e outro. Mas nunca mais foi a mesma.
O tempo passou e nos afastou outra vez. Coisas da vida.
Sempre soube dela, acompanhava sua vida de longe, desejando sempre o melhor,
afinal sempre que precisei de carinho ela se fazia presente. Quando precisei de
consolo também.
De novo voltamos a nos encontrar e dessa vez a vida tinha
sido cruel com ela. Doente, lutando para reverter um quadro difícil, a Cláudia
nunca permitiu que perdêssemos a esperança na cura.
Quando todos se entristeciam ela sorria e nos deixava
confiantes outra vez.
Não estava ao seu lado quando o pior aconteceu. Não tive
coragem de vê-la morta, não visitei nunca seu túmulo.
Hoje, ela faria 49 anos -temos quase a mesma idade – e não
está mais aqui para um abraço apertadooooooo como sempre me dava.
O que me acalma é uma possibilidade. A de que ela e o
Antônio estão lá, juntos e felizes dando continuidade a um dos amores mais
lindos que já vi entre duas pessoas.
Quero externar minha saudade. Quero externar o meu amor e
minha gratidão.
Cláudia esteja você onde estiver, seja feliz e espere por nós
!!!!!!!