Jane entrou na minha vida por mãos carinhosas. As mesmas que
admirei tantas vezes quando adolescente e das quais tenho lembrança clara ainda
hoje. Mãos que acariciaram meu rosto e me agarram pela cintura.
Tarde da noite, uma triste noite aliás, saímos de carro
pela cidade deserta. Conversa fluía delicada num misto de consolo e apoio.
O coração dele em prantos. O meu sempre
solidário, chorava com ele.
Como se quisesse me agradecer pelo carinho, colocou no
tape (é, o bom e velho tape) uma fita cassete.
Uma voz doce tomou conta do ambiente e ele disse:
- Conhece essa voz?
- Não, linda... quem é ela?
- Jane Duboc! Vou
colocar a música que mais gosto para você ouvir.
E tocou “Saudade”.
Curioso, hoje relembrando me dei conta de que o titulo tinha
total identificação com aquele momento. Um momento em que a despedida era iminente.
A nossa inclusive!
Ele se transformou em alguém que não entendo mais e deixou
um vazio na minha alma. Quando ele, o vazio, fica insuportável, o preencho ouvindo ela.
Ela se aprimorou, gravou em inglês, em francês, em italiano
em japonês e eu continuo a entendê-la perfeitamente.
Ele se foi mas deixou de herança a voz dela. Herança preciosa.
Possivelmente ele não a ouve mais. Possivelmente nem se lembre
do momento em que nos apresentou e certamente não há mais nenhuma significação naquela voz que
considerava a melhor de todos os tempos.
Hoje, o que me trouxe até ela foi um sonho estranho onde o
dono daquelas mãos tinha uma profunda tristeza no olhar. Como em outros sonhos, não trocamos palavras. Curiosamente ao
sair de cena ele deixou um bilhete escrito com caneta vermelha, num pequeno papel
amarelo:
- Chris, cante !!
Você não pode deixar os seus sonhos para traz.
Pode ser nada, mas pareceu um alerta de quem abdicou dos
próprios sonhos para viver uma vida medíocre numa profissão totalmente sem perspectivas.
Acordei triste, escura, fria, mas resolvi que não ficaria assim. Busquei Jane , que ao cantar, sorri
com os lábios, com os olhos e com a alma e me faz sorrir também.
Ouvi várias músicas, escancarei minha alma e deixei o sol entrar, nota por nota, aquecendo e iluminando meu dia.
Ouvi várias músicas, escancarei minha alma e deixei o sol entrar, nota por nota, aquecendo e iluminando meu dia.
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