1995. Época em que a Simone ainda não insistia em
cantar “Então é Natal” e, numa simpática ironia, eu comprava religiosamente
seus CD’s.
No álbum “Simone Bittencourt
Oliveira, a terceira faixa me arrepiou assim que ouvi. Letra de Isolda e música
de Eduardo Dusek , “Quem é Você?” tem o dom de emocionar nem sei se pela melodia
ou pela poesia. Ouso dizer que os mais sensíveis, pelo menos uma vez na vida,
já se fizeram essa pergunta.
Ouvia insistentemente e enquanto isso, eu que
sempre gostei de cantar, imaginava um dia poder interpretá-la.
Nada do que eu tenha imaginado na
época, chegou perto do que aconteceu ontem.
Quem me conhece, sabe o quanto
gosto de cantar e diante da impossibilidade de seguir carreira, seja pela falta
do talento necessário, ou de oportunidade, acabo me realizando nos palcos do
karaokê.
Quando vi a música no “cardápio
musical” imediatamente incorporei no meu repertório – que modestamente é até
bem vasto. De lá pra cá - vão-se 16 anos – acabou se tornando, o que chamamos
numa piada interna, a minha música de trabalho.
Alguns dos amigos que fiz ao
longo desse tempo, sempre me pedem para cantá-la. Entre eles o Adauto,
aniversariante de ontem, e o Ary, querido amigo vivendo atualmente na Europa.
Por uma dessas coincidências que não se explica, pela manhã, o Ary via Inbox me
disse:
- Chris, se for ao karaokê hoje,
canta “aquela” pra mim!
E a noite, assim que chegou, o
aniversariante falou:
- Chris, hoje você vai cantar “aquela”
pra mim, né?
Atendendo a milhares de dois
pedidos, cantei.
Vale dizer, que cantar me leva a
outro lugar. É uma catarse. Agora, cantar “Quem é você” me leva longe. Saio de
mim, viro outra coisa e isso fica claro, explícito! Principalmente hoje, que a
letra voltou a fazer sentido em minha vida.
Quando acabei a canção, no meio
dos aplausos, ouvi uma voz diferente dizendo:
- Que lindo !!! Que lindo !!!!
Que lindo !!!
Era mesmo alguém bastante
entusiasmado. Olhei na direção em que vinha o som e percebi um rosto novo entre
nós. Stenio, um rapaz de vinte e poucos anos, roqueiro. Tocou bateria e
guitarra até os 19 anos, quando um trágico acidente fez com que perdesse a mão
direita.
A noite seguiu divertida como
sempre, com direito a “Parabéns pra você” e rodadas onde o aniversariante
cantou com cada um dos convidados, músicas sorteadas aleatoriamente.
Minutos antes de fechar, ele veio
até nossa mesa. Pediu licença e sentou-se. Olhando pra mim disse:
- Eu fiquei muito impressionado
com você cantando aquela música. Não sei como chama, mas é aquela que você
cantou de olhos fechados o tempo todo. Queria pedir um favor: Que você cantasse
de novo, na minha vez. Meus amigos não estavam aqui naquela hora, e eles
precisam ouvir.
Contou o drama que viveu, disse
que nunca tinha ido a um karaokê antes, que estava se divertindo, enfim, não
tive como negar um pedido feito de forma tão sincera.
Subi no pequeno palco, peguei o
microfone, ouvi os primeiros acordes, fechei meus olhos e cantei. Não! Minha
alma cantou. Todos em absoluto silêncio e minha voz. Até eu, de onde estava, podia ouvi-la. Ouso dizer que em todos esses anos, nunca cantei assim.
Quando a música acabou, demorei
uns segundos pra voltar, abri os olhos e vi o Stenio enxugando as lágrimas numa
emoção que me comoveu. Fui abraçá-lo e seu olhar foi tão doce, tão grato, tão
profundo, que superou toda e qualquer situação que eu tenha imaginado há alguns
anos, enquanto ouvia Simone na pequena sala do meu apartamento.
Para ouvir: Quem é você