À Mônica Montone, tradutora da minha alma.
Hoje me peguei chorando
amparada por um cenário paradisíaco!! Foi um choro de quem se descobre através
da palavra do outro! No meu caso, da outra.
Quando Mônica Montone me
deu o livro " A Louca do
Castelo" de presente, me alertou que as lágrimas viriam. Eu vivia um
momento de alma em carne viva!!! Apavorada com a possibilidade de mais dor,
covardemente encostei a obra.
Quando resolvi viajar sozinha, resolvi também que
já era hora de um encontro comigo mesma. Estou aqui há dois dias! Estou aqui há
uma centena de minutos dedicados só a mim!
Trouxe comigo livros e um computador para escrever.
Ando ávida pelas palavras!
O choro de hoje é legítimo.
Choro de gratidão.
Lágrimas emocionadas de quem se reconhece, de quem se descobre, de quem
gosta do que vê!
Os tons de Maraú transcendem qualquer explicação
possível! O silêncio, a brisa, a temperatura que varia ao bel prazer do vento !
Tudo isso coloca minha vida em perspectiva.
E, enquanto muitos se acham pequenos diante de tamanha grandiosidade, eu,
sem medo da modéstia, me sinto tão grande quanto o mar que vejo e ouço agora!
Ao Raimar, pelo entusiasmo que me inspirou a chegar aqui!
O dia amanheceu cinza!! E
ainda assim me rendi ao espetáculo que é Barra Grande.
Ao longo do dia as tonalidades iam do chumbo
ao gelo. Sem medo de parecer ridículo com as nomenclaturas, passeou pelo rato,
ardósia, mescla!
O azul tentou, mas o que
conseguiu foi um cinza azulado.
O mar passivo como suas
águas de baia, refletiu só o que via e passou o dia num cinza esverdeado.
De cor, só o minha canga
de estampa "fita do Bonfim", o cardápio lindo do O Deck e o
mobiliário do bar que, mesmo sem pretensão alguma, fazia o cinza se destacar ao
fundo de mesas lilás, bancos amarelos, guarda sóis laranjas.
A hora do
espetáculo chegou e as caixas de som nos encheu os ouvidos de Marisas,
Alexandres, Marcelos, Marias...
E quando Tim cantou
"venha dormir em casa"
achei que o cinza fosse se abrir para dar passagem às tonalidades laranjas de
nosso astro maior, que chegava como se atendesse à ordem do síndico!
Houve uma disputa! Briga
de gente grande, de personalidade, mas o que se viu ao longe, tão belo quanto qualquer
outro por-do-sol que presenciei, foi o
céu cinza alaranjado!!!
A você, que me fez seu "mundo" por aquele instante!
Soube aos sete que estava
fadada a ter alma adoentada de amor!
Ao longo dos anos e dos
dissabores, experimentou todo tipo de enfermidade. Espirrou, tossiu, sentiu enjoo
e vertigem. Otimista, mantinha sua alma alimentada pela esperança na chegada de um grande amor.
Passou um tempo tentando entender porque aqueles
que queriam o corpo não admiravam a alma e os que admiravam a alma não lhe tocavam
o corpo.
Sempre que um alguém se aproximava, a alma - já tão
machucada - respirava fundo e tentava acreditar na paz que, quem sabe, viria.
De tanto crer e não ver concretizar acabou tão
doente que levou junto o corpo. Acabaram ambos mutilados naquilo que a mulher
tem de mais simbólico.
Depois disso, aceitou qualquer carinho, qualquer
atenção! Não se sentia mais digna de escolha.
Um dia viu chegar aquele que não se importava com o
estrago que a vida tinha feito e se mostrou tão aberta, tão disponível, que
quando ele se foi, arrancou a alma de dentro do peito disforme e a deixou
abandonada ali, em carne viva!
Passaram um tempo desconectamos: corpo e alma. Cada
um tentando sobreviver àquela agressão inesperada.
Ter a alma arrancada do peito permitiu olhá-la de
perto, com cuidado. Permitiu conhecê-la a fundo e entender quem ela era.
O tempo as uniu e juntas perceberam que a
tenacidade é sua melhor qualidade.
De volta à vida, certo dia esbarrou num certo
"Arquimedes" que não querendo só o apoio e nem só a alavanca, com
surpreendente delicadeza a colocou na condição de mundo!!!!