Nascidos sob o signo de Peixes,
Beatriz e Zé Edu foram par. Se uniram motivados por uma paixão proibida e
acabaram separados quando a vontade de um amor tranqüilo apareceu. Fizeram da
lua testemunha; compartilhavam-na no signo de Virgem. Trocaram juras, cheiros,
choros, gozos e risos. Ouviram Toni, Gloria, Celine, Rod, Zizi e Gil. Dançaram ora trocando passos, ora em outros braços,
mas sempre trocando olhar. Amaram um ao outro como se fosse o último, cuidaram
um do outro como se fossem únicos. Viveram a eternidade entre quatro paredes e
foram ao inferno quando o fim chegou.
Sobre o início – por ela.
Beatriz achou incrível que 15
anos tivessem se passado, foi num Outono, como agora - exatamente no mês de
maio – que ele chegou, meio sem querer, meio despretensioso.
Bodas de Cristal pensou, com
sorriso irônico. Nada mais simbólico.
Cristal não se quebra, espatifa.
Perfeito! A relação espatifou
depois de três anos incríveis.
Por longo período, pensar no
assunto provocou nela um nó no estômago. O tempo, sempre o tempo, foi capaz de
substituir o nó por uma leve revoada de borboletas.
- É, definitivamente não parece
uma história que vivi. Parece sim um daqueles filmes água com açúcar que
assistimos sozinhas para que ninguém veja as lágrimas que provocam.
Foi uma bela história, precisava
admitir.
O convite informal para o chopp com
a equipe de trabalho, perceber – depois de alguns minutos - a armação para ficarem
a sós. A conversa doce, o olhar, o toque quase sem querer das mãos sobre a
mesa. O mundo parando de girar, o silêncio que tomou conta da cena, o olhar
profundo, a mão que agora não mais fazia questão de esconder o desejo do toque.
A conta que chegou e ela não viu, o bar ficando pra trás enquanto saiam – mãos
entrelaçadas – o vento frio da madrugada que bateu em suas costas. O paletó que
a envolveu, os braços em volta de sua cintura, o manobrista perguntado sobre o
carro. Os braços dele, o vento frio, o olhar profundo, a respiração ofegante, o
manobrista ao fundo, o barulho dos carros na avenida movimentada. A respiração ainda
mais ofegante, os braços ainda mais apertados, as mãos dela agora em torno do
pescoço dele, o olhar. Ah! o olhar e finalmente o beijo quente, desejado.
- É, foi um belo começo.
Sobre o início – por
ele
Zé Du se deu conta de que vivia
só! 15 anos de solidão de alma. Não conseguia se lembrar de outra fase tão
intensa, tão entregue como a que viveu ao lado de Beatriz.
Pensava nela num misto de
saudade, tristeza e raiva.
- Como ela pôde colocar fim numa relação
tão boa?
Nenhum dos casos que teve depois
dela – e foram muitos - exerceu nele o mesmo fascínio. Ela tinha uma
ingenuidade, uma paixão pela vida, uma alegria tão grande que o encantava.
Pensar nela provocava um nó no estômago. Mesmo magoado, precisava admitir sua
parcela de responsabilidade na decisão do fim.
-Demorei dois anos pra tomar
coragem, dois anos. Ela não teve paciência. Não soube entender.
Combinar um chopp com pessoas
fictícias para justificar a ida dela. Fingir surpresa quando não apareceu
ninguém, tocar levemente a mão dela esticada sobre a mesa como que por acaso,
olhar nos olhos grandes e castanhos emoldurados por uma sobrancelha perfeita. Perceber que o silêncio se fez e o tempo parou,
tocar as mãos agora sem nenhuma preocupação com o acaso, pedir a conta, pagar
nem saber como, sair do bar com ela pelas mãos, entregar o comprovante para o
manobrista, torcer para que o carro estivesse longe, perceber que Beatriz
sentia frio, colocar o paletó nas suas costas e aproveitar para abraçar sua
cintura. Olhar profundamente nos olhos dela, a respiração ofegante, a magia que
tomou conta do momento. Sentir os braços dela em volta do seu pescoço, o olhar,
o cheiro e o beijo. Ah, o beijo. Como adorava aquele beijo.
- Maldita Beatriz.
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