Decidiu que a distância seria o
único caminho para tentar entender o recado que a vida lhe mandava. Recado
definitivo, cruel.
Não houve generosidade e aquilo lhe causou estranhamento.
- Justo você, vida? Sempre tão
generosa comigo?
Pensando no assunto, dia após
dia, foi-se criando um abismo entre aquilo que se tornou e aquilo que um dia foram
juntos.
- É como um novela, dessas mexicanas, que
assistimos e achamos pouco verossímil.
Talvez por isso escreva em
terceira pessoa.
Até que um dia, diante da foto que fizeram
questão lhe de mostrar, identificou o vazio do olhar.
Logo no olhar!
Reconheceram-se através do
olhar, certo dia, num corredor de Shopping. Descobriram-se apaixonados através
de um olhar numa festa de Reveillon. Trocaram um olhar cúmplice – o último, na
hora da partida– enquanto carregavam o caminhão com a mudança dele.
O olhar que, curiosamente,
nunca foi trocado enquanto se amavam – com exceção da última vez, quando os
olhares foram intensos e apaixonados.
O olhar com o qual conversaram
durante anos - em mesas de bar, em festas, em cerimônias cheias de pompa - quando
falar não era possível.
O olhar que irradiava
felicidade quando se encontravam. O mesmo que se turvava de lágrimas de alegria
quando juntos, comemoravam os títulos do time de coração.
Até o olhar de decepção e
angústia que demonstrou quando ela desistiu daquilo que era tão importante para
ele.
Agora, vazio? Vazio era novo.
Era triste!
Olhou-se no espelho preocupada.
Procurou por uma emoção, qualquer uma, ainda que fosse triste. E foi! Entendeu que aqueles olhos nunca mais seriam
protagonistas de uma música do Fagner.
Resignada mas decidida a manter emoções no olhar, vestiu-se, maquiou-se –
caprichou nos olhos – e saiu para encontrar amigos queridos.
Sozinha, enquanto esperava por
eles, se pegou observando pessoas e seus olhares. Construiu pequenas histórias
baseadas nas coisas que viu. Teve pena de alguns e vibrou secretamente de alegria com
outros.
Minutos depois, no meio da multidão, um
olhar conhecido chamou sua atenção. Veio assim, sorrindo em sua direção.
Ajoelhou-se ao seu lado, pegou delicadamente em sua mão, afagou seu rosto e olhou profunda e carinhosamente em seus olhos dizendo:
- Você é uma mulher incrível !!!
O olhar, sempre o olhar.
Tristemente bonito.
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