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Blog de histórias reais e de ficção.
Um lugar para expor opiniões que provoquem dor ou delícia!
Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



sábado, 9 de agosto de 2014

Em nome do Pai !!!



Falar de pai é assunto delicado. Não no sentido do melindre, mas da emoção.

Fico pensando qual a minha memória mais antiga com o meu...

... 1967, eu com três anos, e ele me levantando para ver, pelo vidro do berçário, minha prima Adriana que tinha nascido há algumas horas.

Docão, como carinhosamente o chamo, foi exímio jogador de bola e dividiu o campo com dois capitães da Seleção Brasileira: Mauro e Bellini. Ele se orgulha disso, eu também. Abdicou do sonho por pressão familiar e virou funcionário público. Ele se orgulha disso, eu também, apesar de sentir certo pesar em sabe-lo frustrado.

Perdeu o pai aos 4 anos, mas guarda dele lembranças tão profundas, que me causam arrepios. Todos os carros que comprou foram azuis. Eu nunca entendia, até saber que era a cor do Ford 29 que meu avô Pedro tinha. Dia desses, soube que já em 1934, o dono do Fordinho era assinante do O Estadão, aí entendi porque meu pai assina o jornal desde que me conheço por gente, inclusive na fase, em que eu e meu irmão, queríamos muito que ele assinasse o Jornal da Tarde.

Tenho ótimas histórias para contar. Histórias que ele sempre fez questão de construir conosco:

A caixa com meia dúzia de Nha Bentas, sagradas, trazidas uma vez por mês, no dia do pagamento. Ele, bancário durante a semana, atrás de um balcão de padaria aos sábados e domingos, para conseguir um dinheiro extra, provavelmente para realizar algum sonho familiar. É, nunca nada só pra ele. Sempre o coletivo.

Nossas férias em São Vicente – a praia é melhor que Santos, ele dizia – e depois no Guarujá – agora tá melhor que São Vicente, né filha?

Nossos carnavais, na Recreativa em Pontal. Dançávamos muito, bebíamos whisky, nos divertíamos a valer. Meu baile de debutantes, ele, orgulhoso, desfilando comigo no mesmo clube. Ah, ensaiamos a valsa em casa, algumas vezes, para evitarmos o mico. Deu certo!

Dono de um nome que detesta, Aparecido, era motivo de piada consentida, junto aos meus colegas de colégio:

- Quando o Aparecido aparece, nóis desaparece!! E ele achava graça.

Não estava quando fui crismada, viajou a trabalho – meio que um prêmio de reconhecimento ao excelente trabalho que exercia no Banco do Estado – por quase todo o nordeste. Chegou carregado de presentes.

Detestava o primeiro namorado sério que tive, mas nunca abriu a boca para fazer campanha contra. No dia que contei que não era mais virgem e ele na sua sabedoria impressionante disse:-

- “E você achou mesmo, que eu achasse que você fosse, aos 24 anos e 2 de namoro?”

No dia que contei que tinha decidido não me casar mais com o tal cara que ele detestava, deu um sorrisão e disse:

- “Eu tinha esperanças de que você fosse acordar”

A alegria quando tirou uma Brasília no consórcio, teoricamente para mim e minha mãe. A cor duvidosa, escolhida para agradar a mim:

- Filha, você implica com meus carros azuis, então, como esse é você que vai usar, escolhi um “beginho”. Oh, Meldels, pensei, deve ter escolhido no escuro. Era verde abacate, com leite, tá certo, mas ainda assim feio!

Sempre sábio, cheio de experiências de vida e uma generosidade ímpar, nunca negou um ombro, os ouvidos e um conselho. Nunca negou ajuda, dinheiro, comida.

Sempre ajudou as irmãs, os sobrinhos, alguns amigos, genros, noras, desconhecidos.

Quando soube que eu ainda amava um namorado da adolescência, teve história pra contar e juntos choramos os amores impossíveis de nossas vidas. Consegui seguir em frente graças a ele, que me mostrou que outras relações sempre são possíveis.

Nós dois cuidando do meu casamento, lá no Esporte Clube Banespa em São Paulo e depois de braços dados entrando pelo salão – eu não quis casar na igreja e isso não foi, em momento algum, um problema - ele segurando pra não chorar e eu também.

O nascimento da Marcella e o choro desmedido de alegria, a notícia da gravidez dos meus gêmeos e o choro dele de emoção.

A frase certeira, diante das minhas queixas sobre o casamento:

- “Chris, as pessoas só fazem com a gente, aquilo que a gente permite que elas façam”. Nunca mais me esqueci disso.

Meu pai cuidou a vida toda de mim. Carinho quando tive hepatite, paciência quando tive Síndrome do Pânico e coragem quando tive câncer.

É a referência masculina dos meus filhos, que infelizmente perderam o pai há 6 anos. Para o meu pai, a perda do ex genro pesou. Ele o amava como a um filho, mesmo depois de estarmos separados há 11 anos. Pesou tanto que meses depois teve um AVC que o deixou debilitado por um tempo.

Docão nos deu mais alguns sustos, teve endocardite, teve outro AVC, mas hoje, aos 84, ele ainda cuida de mim, meus irmãos, sobrinhos e netos.

Difícil pensar nele sem me emocionar, difícil saber como será seguir quando ele não estiver mais aqui. Mas nem quero pensar nisso agora.


O importante é que em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, desejo que ele seja sempre feliz. 
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