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Blog de histórias reais e de ficção.
Um lugar para expor opiniões que provoquem dor ou delícia!
Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



terça-feira, 7 de junho de 2016

Festa Estranha!



Era um dia frio de julho. Apesar do habitual calor da cidade, mesmo em tempos de inverno, aquela noite estava especialmente gelada.

Havia se questionado na frente do espelho, enquanto se maquiava, se devia mesmo ir à tal festa. Sabia não ter nenhuma afinidade com aquela gente, mas não queria decepcionar o parceiro, o  convidado de fato.

O par foi pontual, coisa rara. Ela entrou no carro ainda relutante, e ele percebeu:

- Não quer ir?
- Na verdade, não. Mas me comprometi com você e não vou voltar atrás.

Foram em silêncio até o local. Por algum motivo que não se explica, tinha uma vaga na porta e ela imaginou quem teria ido embora tão cedo.

- Deve estar animadíssimo aí dentro, pensou de forma irônica.

A casa ficava no alto e para chegar até a porta principal, tinham que subir cerca de 15 degraus. Lígia subiu o primeiro lance, focada na escada, até que ouviu a voz ligeiramente estridente e um tanto anasalada:

- Ahhhhh!!!!!! Até que enfim... Bem vindos a minha casa!!!!!!!!

Levantou os olhos e deparou-se com uma linda mulher no topo da escada. Saltos altos, vestindo longo estampado, justérrimo, costas de fora, sem mangas, em tons dourados. Cabelos presos displicentemente de propósito e um ornamento carnavalesco amarelo ouro com pedras vermelhas, caído na testa. De propósito, mas nem tão displicente assim.

Cumprimentaram a anfitriã e foram conduzidos à mesa na área externa da casa. Tudo muito bem decorado com tapetes persas importados, louças coloridas, velas, plantas, sedas. No melhor estilo oriental.

Comida típica farta, servida por garçons impecáveis. Bebida de qualidade, à vontade.

Sentada num canto sem muita visibilidade, Lígia agradeceu poder ver sem ser vista e admitiu, estava se divertindo com as cenas. 

Mulheres vestidas como se estivessem numa festa no reino de Senegal - incluindo o calor. Muito peito e muita perna de fora. Sandálias altíssimas, muita pedraria, muita maquiagem, muito botox, muito perfume, muita inadequação à temperatura glacial da noite.

Um certo doutor resolveu dar uma palhinha cantando bela música com sua voz nem tão bela assim. A moça tímida - obrigada pelo pai orgulhoso-  cantou um trecho de ópera e todos pareceram estar com alguma vergonha alheia. Músicos se revezaram no violão. 
O ápice da noite foi a bailarina em trajes de odalisca - bem sumários, por sinal - rebolando ao som de um tambor muito bem tocado.

Foram todos intimados a descer até o local da apresentação.

Sentada nos degraus de uma escada - apenas os convidados mais habitués ocupavam sofás e poltronas como tronos, aliás! - lembrou-se de uma cena do filme "O Bebê de Rosemary" onde todos os presentes, menos a pobre Mia Farrow, faziam parte de uma confraria que adorava o demônio.
Só não se sentiu a própria Rosemary, porque conhecia as histórias absurdas atribuídas ao grupo. De resto, o que se passava ali , não era muito diferente. Nem a adoração a seres nefastos podia ser desconsiderada.


No final da noite, exausta, mas bem alimentada - foi preciso admitir - Lígia seguiu em silêncio para casa, pensando como tinha sorte em ser apenas coadjuvante, naquele espetáculo. 
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