Sobre o Conteúdo do Blog

Blog de histórias reais e de ficção.
Um lugar para expor opiniões que provoquem dor ou delícia!
Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Quem é você ?


1995.  Época em que a Simone ainda não insistia em cantar “Então é Natal” e, numa simpática ironia, eu comprava religiosamente seus CD’s.

No álbum “Simone Bittencourt Oliveira, a terceira faixa me arrepiou assim que ouvi. Letra de Isolda e música de Eduardo Dusek , “Quem é Você?” tem o dom de emocionar nem sei se pela melodia ou pela poesia. Ouso dizer que os mais sensíveis, pelo menos uma vez na vida, já se fizeram essa pergunta.

Ouvia insistentemente e enquanto isso,  eu que sempre gostei de cantar, imaginava um dia poder interpretá-la.

Nada do que eu tenha imaginado na época, chegou perto do que aconteceu ontem.

Quem me conhece, sabe o quanto gosto de cantar e diante da impossibilidade de seguir carreira, seja pela falta do talento necessário, ou de oportunidade, acabo me realizando nos palcos do karaokê.
Quando vi a música no “cardápio musical” imediatamente incorporei no meu repertório – que modestamente é até bem vasto. De lá pra cá - vão-se 16 anos – acabou se tornando, o que chamamos numa piada interna, a minha música de trabalho.

Alguns dos amigos que fiz ao longo desse tempo, sempre me pedem para cantá-la. Entre eles o Adauto, aniversariante de ontem, e o Ary, querido amigo vivendo atualmente na Europa. Por uma dessas coincidências que não se explica, pela manhã, o Ary via Inbox me disse:

- Chris, se for ao karaokê hoje, canta “aquela” pra mim!

E a noite, assim que chegou, o aniversariante falou:

- Chris, hoje você vai cantar “aquela” pra mim, né?

Atendendo a milhares de dois pedidos, cantei.

Vale dizer, que cantar me leva a outro lugar. É uma catarse. Agora, cantar “Quem é você” me leva longe. Saio de mim, viro outra coisa e isso fica claro, explícito! Principalmente hoje, que a letra voltou a fazer sentido em minha vida.
Quando acabei a canção, no meio dos aplausos, ouvi uma voz diferente dizendo:

- Que lindo !!! Que lindo !!!! Que lindo !!!

Era mesmo alguém bastante entusiasmado. Olhei na direção em que vinha o som e percebi um rosto novo entre nós. Stenio, um rapaz de vinte e poucos anos, roqueiro. Tocou bateria e guitarra até os 19 anos, quando um trágico acidente fez com que perdesse a mão direita.

A noite seguiu divertida como sempre, com direito a “Parabéns pra você” e rodadas onde o aniversariante cantou com cada um dos convidados, músicas sorteadas aleatoriamente.

Minutos antes de fechar, ele veio até nossa mesa. Pediu licença e sentou-se. Olhando pra mim disse:

- Eu fiquei muito impressionado com você cantando aquela música. Não sei como chama, mas é aquela que você cantou de olhos fechados o tempo todo. Queria pedir um favor: Que você cantasse de novo, na minha vez. Meus amigos não estavam aqui naquela hora, e eles precisam ouvir.

Contou o drama que viveu, disse que nunca tinha ido a um karaokê antes, que estava se divertindo, enfim, não tive como negar um pedido feito de forma tão sincera.

Subi no pequeno palco, peguei o microfone, ouvi os primeiros acordes, fechei meus olhos e cantei. Não! Minha alma cantou. Todos em absoluto silêncio e minha voz. Até eu, de onde estava, podia ouvi-la. Ouso dizer que em todos esses anos, nunca cantei assim.


Quando a música acabou, demorei uns segundos pra voltar, abri os olhos e vi o Stenio enxugando as lágrimas numa emoção que me comoveu. Fui abraçá-lo e seu olhar foi tão doce, tão grato, tão profundo, que superou toda e qualquer situação que eu tenha imaginado há alguns anos, enquanto ouvia Simone na pequena sala do meu apartamento. 

Para ouvir:  Quem é você

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Uma Voz !


Um milagre! 

Esta seria minha definição sobre a calmaria que se instalou em meu peito há cinco dias, caso não soubesse do poder que tem o amor entre duas pessoas que se respeitam e se admiram.

Somos par.

Ele tem a capacidade de ler minha alma à distância e eu, tenho a honra de amá-lo de forma verdadeira.

Há anos nossos caminhos se cruzam de tempos em tempos e a cada encontro temos  sensação de continuidade, nunca de afastamento.

Começou com uma voz. Forte, precisa, linda. Fui tomada por um encantamento que me levou a ouvia-la diariamente no rádio do carro, no rádio relógio, no rádio da sala.

Alguns anos depois, a voz ganhou um rosto - igualmente lindo, suave – e um sorriso sem igual. Amigos! Inesperadamente viramos amigos que por alguma razão, se respeitaram com um carinho imenso, desde o primeiro contato.

Havia nele uma sombra, provavelmente fruto da fama, do assédio, da pouca maturidade. Mas isso nunca nos afetou. Tinha a capacidade de despertar o melhor dele – tenho certeza disso.
Ao longo da vida, oscilamos entre encontros e despedidas. Oscilamos o status, mas nunca, nunca duvidamos da importância que temos na vida um do outro. Talvez tenhamos por um tempo, nos esquecido disso, mas a vida, sempre sábia, fez questão de nos lembrar.

Depois de alguns anos de afastamento, ouvi sua voz inesperadamente. Começo dos anos 90, chego em casa numa quarta-feira, tarde da noite, depois de um “happy estendido” com amigos de trabalho, ligo a televisão enquanto mudo de roupa e de repente meu coração dá um salto. Olho imediatamente para a tela e lá está ele.

- Meu Deus!! Quanto tempo, que saudade!

Não foi difícil entrar em contato. Marcamos um encontro e foi lindo. Fecho os olhos e sinto tudo de forma incrivelmente nítida: O bar, descolado nos Jardins, o som do piano – blues – nós dois sentados no balcão. O olhar, a mão dele no meu rosto e nossas bocas finalmente unidas num beijo deliciosamente apaixonado e cheio de saudade.
Passamos meses assim, entre almoços, jantares, passeios pela Paulista, pelo vão do Masp. Namoramos, conversamos, nos amamos, estabelecemos vínculos.

Um dia, achei que ele era demais pra mim. Coisas de pisciana com autoestima entre o taco e o carpete. Achei que, famoso, logo conheceria uma mulher melhor, mais bonita, mais magra, mais inteligente, mais ... mais ... mais...

Num hiato de 6 anos em nossa vida, nunca me esqueci dele. Nunca deixei de desejar o melhor, de vibrar pela felicidade dele.

E de novo a vida nos aproximou, mas dessa vez estava tudo muito estranho. Não o reconheci, não o entendi. Respeitei o momento e me afastei.

Mais alguns anos, poucos, voltamos a nos ver, a sair, a conversar e percebemos que tínhamos um vínculo. Não era o momento de estarmos juntos e o afastamento necessário aconteceu sem drama, sem cobranças, mas não sem uma ponta de tristeza.

Quatro anos atrás a vida o trouxe até aqui. Inesperadamente. Foi uma sensação ótima, entrar naquele restaurante e sentir novamente seu abraço. Rapidamente os laços apareceram e conversamos longamente como quem continua o assunto interrompido no dia anterior.

De lá pra cá, nos vemos com alguma frequência, nos falamos sempre, nos cuidamos diariamente.

E foi num dia de cuidado quase medicinal, que ele com amor profundo e verdadeiro, me ajudou a ver a vida de forma simples. A voz, linda e doce, foi portadora de boas novas. Me ensinou a trocar expectativa por possibilidades e apaziguou de tal forma minha alma, que hoje estou plena de vontade de viver.

- E viver pra que? Ele perguntaria, só para ter certeza de que estou no caminho certo.

- Pra ser FELIZ !!!! Eu responderia, provocando nele um sorriso.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Solidão


Plínio foi uma criança estranha. Parecia não pertencer àquela família. Mãe dedicada, pai indiferente, casa pobre de chão de batido.  Cenário caótico o suficiente para os chiliques do menino que odiava pés sujos.

Quando cresceu, na primeira oportunidade, abandonou a vida da qual se envergonhava e partiu para buscar seus objetivos. O ar arrogante, que num primeiro momento parecia auto-estima, logo era percebido como a máscara para seu complexo de inferioridade.

Desde muito jovem, apresentava uma incrível inteligência, uma dificuldade em demonstrar afeto sincero e uma impossibilidade de se comprometer em longo prazo. Valia-se da inteligência para compensar as falhas de comportamento e conseguia, por um bom tempo, convencer as pessoas no seu entorno de que podia ser afetuoso e comprometido.

Cansava-se facilmente de tudo: as aulas de violão, os desenhos, o jogo de futebol. Lia três, quatro livros ao mesmo tempo, numa tentativa vã de preencher o vazio crônico em sua alma. Inquietação interpretada, pela família, como um desejo de saber de tudo rapidamente. A ingenuidade da compreensão, fez com que Plínio achasse muito normal - diante da insatisfação que o assolava de tempos em tempos - abandonar tudo sem culpa.

Nunca teve amigos com os quais pudesse contar. Não os cultivava, mas achava-se uma vítima da solidão. Em momentos de crise, chorava com angústia e medo do futuro que se desenhava.

A vontade do novo, do “fresco” quando manifestada, era incontrolável. Nada o detinha. Deixava simplesmente tudo pra trás e começava do zero, com a roupa do corpo, se assim fosse necessário.

A naturalidade com que se desprendia do passado devastava os que ficavam para trás, e sua capacidade de recomeçar em tempo recorde era assustadora e dolorida para quem assistia a distância. Em poucos dias, tornava-se um estranho. Mudava de estilo, de cabelo, de companhia. Mudava de ares, de bares, de beijos.

Plínio não parecia ser um homem raso. Era capaz de uma entrega profunda nos primeiros meses. Profunda o suficiente para conquistar. Com o passar do tempo, sufocado, ia subindo aos poucos à superfície. Mas, como não sabia nadar, sempre precisava de alguém que o amparasse enquanto boiava para longe.

Entre profundos mergulhos e emersões de proporções “tsunamicas “,  passou a vida sem criar laços, sem estabelecer vínculos mas – dizem - foi feliz fazendo sempre só aquilo que quis.


Plínio morreu ontem, aos 123 anos: numa profunda tristeza nos braços da solidão. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Constrangimento



Há dois meses venho tentando, dia a dia, entender as sensações que me acometem a alma. Entre a dor e a saudade, no entorno da raiva e da mágoa, no vazio da solidão e na plenitude do inconformismo, tenho sentido constrangimento.

Constrangedor o choro diário, agora escondido dos filhos, que já fizeram muito e precisam viver despreocupados das minhas dores.

Constrangedor ouvir: “- Pára com isso!!! Você já passou por coisa pior!!” – e ter que sorrir debilmente, num aceno que concorda com a cabeça e discorda com o coração. Como se pudessem avaliar o que se passa dentro de mim agora e o que se passou quando tive câncer de mama.

Constrangedor ver a cara daquele ex-namorado psicopata – que até outro dia tinha me bloqueado no Facebook – aparecer como sugestão de “amigo” na igualmente constrangedora sessão “Pessoas que talvez você conheça”. Certamente soube que estou separada e resolveu fuçar na minha timeline. Posso ver o sorriso irônico, característica marcante do cretino, estampando na cara feia, emoldurada por cabelos a la Larry.

Constrangedor perceber pessoas do meu convívio envolvidas tão intimamente em outra vida, como se fosse absolutamente normal tudo o que está acontecendo.

Constrangedor ouvir amigos e conhecido contando, indignados, coisas sobre o homem, que até dois meses atrás, dividia a cama comigo. Coisas que demonstram a falta de respeito pela história que vivemos. Talvez, nesse caso, falte a ele uma dose de constrangimento, que pouparia a mim, aos meus filhos e a minha família, da exposição desnecessária de seu novo relacionamento tão precoce e já tão intenso!

Constrangedor ter investido em algo tão efêmero, ter acreditado na felicidade, na cumplicidade, na afinidade e agora nada disse parecer real.

Constrangedor o silêncio,  a indiferença, o pouco caso das pessoas com as quais trabalho e que imaginei que compreenderiam.  

Constrangedora a sensação de incompetência diante dos conselhos, dos palpites, das verdades ditas de forma tão contundente, quando busco desesperadamente, um botão que me desligue de tudo isso, sem sucesso.


Constrangedor ter que admitir que errei feio, errei rude !!! De novo. 
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