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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Melancolia, mais um de Lars Von Trier


Melancolia

“...A sua tragédia onipresente me impressionou
tão profundamente que me convenceu de que se
deve destacar tudo, independente dos detalhes”.
Richard Wagner

Esse texto retrata a fala de Wagner sobre sua obra Tristão e Isolda, mas caberia perfeitamente, como um argumento de Lars Von Trier sobre Melancolia. Não é à toa que o diretor e roteirista usa o Prelúdio da ópera em questão, para dar dramaticidade aos oito primeiros minutos do filme.
Oito minutos que resumem o filme, retratando inclusive que fatalmente a Terra será destruída pelo planeta que dá nome à obra. A quebra do suspense, que poderia ser considerada um problema, na verdade, nos possibilita prestar atenção em outras questões propostas.
Lars Von Trier, gosta de dividir seus filmes em capítulos. Fez o mesmo com os perturbadores Anticristo e Ninfomania. Melancolia nos apresenta dois: O primeiro leva o nome de Justine – personagem vivido de forma majestosa por Kirsten Dunst e o segundo, de Claire, vivida pela queridinha de Von Trier, Charlottte Gainsbourg.
O roteiro surgiu de uma conversa com Penélope Cruz, sobre a Obra Les Bonnes (As Criadas) do francês Jean Genet, que retrata a vida de duas empregadas domésticas que, durante a ausência da patroa tratada na peça como “madame”, se revezam no papel de donas da casa. Lars, admitiu em entrevista que as irmãs Justine e Claire são uma releitura de Solange e Claire da peça de Genet. Indo mais a fundo, poderíamos dizer que “madame” é retratada no filme pelo planeta Melancolia.
Madame e Melancolia são belos, “ricos” e agem de forma opressora e autoritária e são capazes de provocar grande humilhação.
A parte um, Justine, é ambientada na festa de casamento da personagem com Michael - Alexander Skarsgård - organizada pela irmã e paga pelo cunhado John - Kiefer Sutherland - que insiste em lembrar, a todo momento, o quanto ficou cara a empreitada. Todo permeado de ironias, cinismo e certo humor negro, o capítulo mostra de forma latente todo o egoísmo da raça humana. A própria Justine, está completamente fora do lugar, incomodada pelos rituais da cerimônia impostos por Claire.O pai delas, Dexter - John Hurt –parece mais preocupado em dar atenção às Bettys sentadas a sua mesa e esconder os talheres para provocar o garçom. O publicitário e chefe de Justine, Jack - StellanSkarsgård (sim, ele é pai de Alexander), tenta tirar dela, durante todo o tempo, um slogan para uma campanha publicitária e a mãe, Gaby - Charlotte Rampling - faz um discurso em que desdenha a instituição casamento, a família e ironiza a beleza da festa.
Aliás, é a partir da fala da mãe, que Justine começa a revelar os sinais da depressão que a assola. A personagem parece pedir socorro. Primeiro para o marido, que está mais preocupado com as terras que comprou, depois para a irmã que insiste em que os rituais sejam cumpridos. Recorre à própria mãe, que numa frieza aflitiva, aconselha que ela pare de sonhar e por último para o pai, que num primeiro momento parece disposto mas, fanfarrão, acaba não dando atenção.
O único alento é encontrado em Leo, o sobrinho, vivido por Cameron Spurr, que carinhosamente à chama de “Aunt Steelbreaker”, A tradução para português como "Tia Invencível" não reproduz a realidade. Steelbreak é uma referência a um personagem de “World of Warcraft” – um jogo de RPG- que tem uma aliança com o deus da morte através da sua aura elétrica. Von Trier usa essa referência logo no início do filme, quando raios saem dos dedos de Justine.
Durante a festa, a noiva dança com o pai ao som de “Strangers in the night” e bebe com o marido ao som de “Fly me to the Moon”, numa nítida intenção do diretor de enfatizar a ironia.
Em Claire – Parte dois, a luz muda, o ritmo muda, os humores também. Começa uma inversão de papéis. Nenhuma outra música é incorporada às cenas. Só Tristão e Isolda em alguns momentos. Os diálogos são raros, os silêncios gritam. Justine mostra-se niilista. Tripudia sobre a tentativa da irmã de salvar o filho, demonstrando uma força não vista na primeira parte. A personagem parece aliviada com o suposto fim do mundo e lida com a situação de forma surpreendente. Já a Claire, autoritária e controladora da parte um, só aparece no momento, em que entra em conflito com o marido para defender a irmã. Depois vai perdendo forças, vai se fragilizando e entra em total desespero. John, passa da soberba à covardia. Só Léo, continua o mesmo, carinhoso e indiferente à tragédia iminente, consegue que a tia, num ato de compaixão, use da fantasia para tornar o fim menos dramático e assustador, pelo menos para ele.
O filme transforma os atos humanos em práticas patéticas e propõe uma reflexão: Diante da condição existencial humana, defender a vida é importante de fato?

Das Curiosidades:
O papel de Justine, foi escrito para Penélope Cruz que abriu mão do convite para atuar em Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas (2011).
A cena retratada no cartaz do filme, é inspirada na obra Ophélia de John Everett Millais, que por sua vez se baseia na trágica história de Ofélia (Hamlet - Shakespeare), levada à loucura e suicídio depois que Hamlet mata seu pai.
John, na parte I do filme, pergunta à Justine quantos buracos tem seu campo de golf. Ela responde que são 18 e ele confirma, porém na parte II, quando Claire tenta fugir com o filho nos braços, vemos nitidamente que ela passa pelo buraco de nº 19. “19º buraco” é um termo usado por jogadores de golfe para dizer “Terminou o jogo. Agora vamos embora”.
As cenas externas foram rodadas no castelo de Tjolöholms. As internas foram gravadas em estúdio, também na Suécia, em Trollhättan.


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