Sobre o Conteúdo do Blog

Blog de histórias reais e de ficção.
Um lugar para expor opiniões que provoquem dor ou delícia!
Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sob o Signo de Peixes! 10


Desconfiada de Zé Edu, Tânia não se cansava de procurar pistas que comprovassem que estava sendo traída.
Não sabia que reação teria se sua suspeita se confirmasse mas, a ideia de ser enganada estava tirando-a do sério.

Na semana que antecedeu o Natal, Tânia achou uma pequena sacola de joalheria no armário dos ternos do marido. Aquilo aguçou sua curiosidade e não resistiu ao impulso de abri-la.
Com cuidado, tirou o pequeno lacre, pegou a caixa e abriu: uma aliança, quadrada, com um pequeno brilhante cravejado. Precisou respirar fundo para não ter um ataque de raiva.

- Não acredito !!!!!

Lamentou que as dicas sobre o colar de esmeraldas não tivessem surtido efeito.

Na véspera de Natal, antes de saírem para a Ceia na casa dos tios dela, propôs a Zé Edu, que trocassem os presentes ali mesmo. Queria um momento de intimidade com o marido.
Ele achou o pedido inusitado, Tânia adorava mostrar os presentes que ganhava para a família mas, como se sentia culpado pela pouca atenção e carinho que vinha dispensando a ela, resolveu aceita.

- Eu começo, disse ela, enquanto entregava uma caixa muito grande e ligeiramente pesada. Ele abriu e se deparou com dois vinhos embrulhados numa calça jeans, duas camisas e charutos. Achou tudo aquilo estranho. Nada combinava com ele. Parecia um amontoado de coisas colocadas juntas para fazer volume.
Tentou sorrir e dizer que tinha adorado, mas era nítida a apatia.

Então, ele entregou a ela uma sacola grande, de uma famosa boutique da cidade.
Tânia franziu a testa, olhou meio de lado, abriu a sacola e a caixa que estava dentro e deu de cara com um vestido de festa, lindo, visivelmente caro.
Ela adorou. Era lindo, era a “cara dela”. Mas, se aquela aliança não era para ela.... Preferiu não concluir.

Seguiram para a casa dos tais tios, foram recebidos com festa. O ambiente acolhedor e alegre, regado a muita bebida e petiscos, fez com que Tânia esquecesse, pelo menos temporariamente, a sacola encontrada no guarda-roupas do marido.

Zé Edu, apesar de participativo, não conseguia disfarçar a tristeza do olhar. Onde estaria Beatriz? Ela disse que iria para a casa da avó, já velhinha, mas ele tinha medos, muitos!
Depois do jantar, começou a entrega do tradicional “Amigo Oculto” e de repente Tânia pensou que talvez Zé Edu a tivesse tirado no sorteio.

- Claro, por isso ele escondeu a aliança no fundo do armário!

Não conseguiu esconder a decepção quando Zé Edu entregou alguns livros ao irmão dela.


Foram para casa já de madrugada. Tânia não conseguia tirar a imagem da aliança quadrada da cabeça, Zé Edu não conseguia parar de pensar em Beatriz.

sábado, 9 de agosto de 2014

Em nome do Pai !!!



Falar de pai é assunto delicado. Não no sentido do melindre, mas da emoção.

Fico pensando qual a minha memória mais antiga com o meu...

... 1967, eu com três anos, e ele me levantando para ver, pelo vidro do berçário, minha prima Adriana que tinha nascido há algumas horas.

Docão, como carinhosamente o chamo, foi exímio jogador de bola e dividiu o campo com dois capitães da Seleção Brasileira: Mauro e Bellini. Ele se orgulha disso, eu também. Abdicou do sonho por pressão familiar e virou funcionário público. Ele se orgulha disso, eu também, apesar de sentir certo pesar em sabe-lo frustrado.

Perdeu o pai aos 4 anos, mas guarda dele lembranças tão profundas, que me causam arrepios. Todos os carros que comprou foram azuis. Eu nunca entendia, até saber que era a cor do Ford 29 que meu avô Pedro tinha. Dia desses, soube que já em 1934, o dono do Fordinho era assinante do O Estadão, aí entendi porque meu pai assina o jornal desde que me conheço por gente, inclusive na fase, em que eu e meu irmão, queríamos muito que ele assinasse o Jornal da Tarde.

Tenho ótimas histórias para contar. Histórias que ele sempre fez questão de construir conosco:

A caixa com meia dúzia de Nha Bentas, sagradas, trazidas uma vez por mês, no dia do pagamento. Ele, bancário durante a semana, atrás de um balcão de padaria aos sábados e domingos, para conseguir um dinheiro extra, provavelmente para realizar algum sonho familiar. É, nunca nada só pra ele. Sempre o coletivo.

Nossas férias em São Vicente – a praia é melhor que Santos, ele dizia – e depois no Guarujá – agora tá melhor que São Vicente, né filha?

Nossos carnavais, na Recreativa em Pontal. Dançávamos muito, bebíamos whisky, nos divertíamos a valer. Meu baile de debutantes, ele, orgulhoso, desfilando comigo no mesmo clube. Ah, ensaiamos a valsa em casa, algumas vezes, para evitarmos o mico. Deu certo!

Dono de um nome que detesta, Aparecido, era motivo de piada consentida, junto aos meus colegas de colégio:

- Quando o Aparecido aparece, nóis desaparece!! E ele achava graça.

Não estava quando fui crismada, viajou a trabalho – meio que um prêmio de reconhecimento ao excelente trabalho que exercia no Banco do Estado – por quase todo o nordeste. Chegou carregado de presentes.

Detestava o primeiro namorado sério que tive, mas nunca abriu a boca para fazer campanha contra. No dia que contei que não era mais virgem e ele na sua sabedoria impressionante disse:-

- “E você achou mesmo, que eu achasse que você fosse, aos 24 anos e 2 de namoro?”

No dia que contei que tinha decidido não me casar mais com o tal cara que ele detestava, deu um sorrisão e disse:

- “Eu tinha esperanças de que você fosse acordar”

A alegria quando tirou uma Brasília no consórcio, teoricamente para mim e minha mãe. A cor duvidosa, escolhida para agradar a mim:

- Filha, você implica com meus carros azuis, então, como esse é você que vai usar, escolhi um “beginho”. Oh, Meldels, pensei, deve ter escolhido no escuro. Era verde abacate, com leite, tá certo, mas ainda assim feio!

Sempre sábio, cheio de experiências de vida e uma generosidade ímpar, nunca negou um ombro, os ouvidos e um conselho. Nunca negou ajuda, dinheiro, comida.

Sempre ajudou as irmãs, os sobrinhos, alguns amigos, genros, noras, desconhecidos.

Quando soube que eu ainda amava um namorado da adolescência, teve história pra contar e juntos choramos os amores impossíveis de nossas vidas. Consegui seguir em frente graças a ele, que me mostrou que outras relações sempre são possíveis.

Nós dois cuidando do meu casamento, lá no Esporte Clube Banespa em São Paulo e depois de braços dados entrando pelo salão – eu não quis casar na igreja e isso não foi, em momento algum, um problema - ele segurando pra não chorar e eu também.

O nascimento da Marcella e o choro desmedido de alegria, a notícia da gravidez dos meus gêmeos e o choro dele de emoção.

A frase certeira, diante das minhas queixas sobre o casamento:

- “Chris, as pessoas só fazem com a gente, aquilo que a gente permite que elas façam”. Nunca mais me esqueci disso.

Meu pai cuidou a vida toda de mim. Carinho quando tive hepatite, paciência quando tive Síndrome do Pânico e coragem quando tive câncer.

É a referência masculina dos meus filhos, que infelizmente perderam o pai há 6 anos. Para o meu pai, a perda do ex genro pesou. Ele o amava como a um filho, mesmo depois de estarmos separados há 11 anos. Pesou tanto que meses depois teve um AVC que o deixou debilitado por um tempo.

Docão nos deu mais alguns sustos, teve endocardite, teve outro AVC, mas hoje, aos 84, ele ainda cuida de mim, meus irmãos, sobrinhos e netos.

Difícil pensar nele sem me emocionar, difícil saber como será seguir quando ele não estiver mais aqui. Mas nem quero pensar nisso agora.


O importante é que em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, desejo que ele seja sempre feliz. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sob o Signo de Peixes ! 9



Apaixonaram-se rapidamente e diante da intensidade fizeram um pacto: Ficariam extremamente felizes quando estivessem juntos e quando precisassem estar separados, leriam os mesmos livros, ouviriam os mesmos discos, assistiriam aos mesmos filmes e seriam igualmente felizes com a presença um do outro nos símbolos, nas músicas, nas lembranças.

Com o final do ano se aproximando,  Zé Edu preparou uma surpresa para Beatriz.

Sabia que, a impossibilidade de estarem juntos nas festas, os deixaria com uma sensação de vazio. Não queria que sua “princesa” sofresse com isso.

Beatriz, por sua vez, queria se fazer presente. Queria estar no pensamento daquele homem, que a cada dia ficava mais impregnado na sua alma.

Sentamos um de frente ao outro, na cama do flat, tinham nas mãos caixas muito bem embrulhadas.

Olharam-se profunda e demoradamente, esboçando um sorriso amoroso. Olhos e bocas em perfeita harmonia.

- Você primeiro, disse Zé Edu, entregando à Beatriz o pequeno embrulho.

Ela, conhecedora das gentilezas do amado, imaginou o que havia na caixa que era, nitidamente, de joalheria. 
Não pode conter o espanto. Uma aliança, quadrada, com um brilhante, e um bilhete:

“Quero você! Sempre! Pra Sempre! Pra mim!”

Não conteve a emoção ao perceber o quanto ela significava para ele, que num primeiro momento lhe pareceu tão prático, tão desprovido de sentimentos profundos.

Entregou o pacote, de tamanho médio, bem embrulhado.

- Imaginei que seria muito complicado para você, justificar qualquer presente ao chegar em casa, então...

- Não! Deixa eu abrir primeiro, não me conte o que é - ele disse fingindo estar bravo, enquanto sorria largamente.

Pegou o pacote com cuidado, tirou o laço, olhou para ela, tirou o papel, olhou para ela, abriu a caixa e ficou boquiaberto.

Dentro uma gravata linda, com estampa larga que combinava perfeitamente com o estilo dele e no meio, bem posicionado um pingente de ouro.

- Arrumei uma forma de me manter perto do seu coração, disse Beatriz emocionada.

- Essa moeda- continuou - uma libra esterlina do início de 1900, com a imagem da Rainha Vitória de um lado e de São Jorge matando o dragão do outro - encontrei numa joalheria e mandei montar em pingente para você. Como sei que é colecionador de moedas de ouro, acho que você pode dizer que essa veio no meio de algum lote que comprou.

- Além de doce e linda, você ainda pensa em tudo. Estou completamente apaixonado, Beatriz. Vejo sua imagem em tudo, sinto o seu cheiro, ouço sua voz o tempo todo.

- Você também povoa o meu pensamento. Como é bom sentir tudo isso, não é?


O beijo que trocaram foi intenso. Mais do que já tinha sido antes. Houve uma entrega que agora, parecia envolver a alma e não mais só os corpos que se tocavam sedentos de prazer.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sob o Signo de Peixes ! 8




Tânia acordou no exato momento em que Zé Edu entrou no quarto.
Abriu os olhos em tempo de vê-lo entrar no banheiro. Parecia entorpecido, quase flutuando.

-Desgraçado, pensou.

Foi invadida por um sentimento perturbador. Não o amava mais como antes, mas não conseguia imaginar sua vida sem ele. Não tinha mais o mesmo desejo e sabia que ele também não. Aliás, o dele havia acabo há tempos, mas  imaginá-lo nos braços de outra mulher provocava nela uma ira quase incontrolável.

Teve ímpeto de sentar-se na cama e esperá-lo como achou que ele merecia: Gritos, cobranças, pedido de explicação pelo adiantado da hora e pelo cabelo em desalinho. Pensou melhor sobre as conseqüências da atitude e avaliou não ser essa uma boa ideia.

Pensou em fingir que estava dormindo e esperar até a manhã seguinte. Precisa manter a calma. A compra do carro novo, aquele dos sonhos, ainda não tinha se concretizado.

Decidiu por um meio termo.

Ainda de olhos fechados, sentiu Zé Edu sentar na cama e depois deitar-se. Percebeu quando ele virou de lado. Nesse momento, ela abriu os olhos a tempo de vê-lo abraçar o travesseiro e levar a mão ao rosto. Foi aí, que passou o braço pela cintura dela e disse:

- Vou dormir sem um beijo de boa noite?

- Achei que já estivesse dormindo, não quis acordá-la.

- Boa noite, Zé. Continue aí, divagando em seus pensamentos – o tom da voz mostrava total irritação.


Tirou o braço, deitou-se de bruços e simulou choro sentido. Quando se deu conta de que Zé Edu não havia percebido, acendeu a luz do abajur e resolveu ler mais um capítulo de Madame Bovary.

                                                                                                                                                  Continua 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...