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Blog de histórias reais e de ficção.
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Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A culpa que nos carrega!

By Google imagens.

Dizem que os piscianos têm mania de carregar as culpas do mundo e como tal, devo admitir: é verdade, mas não somos os únicos.

Carregamos culpas desde pequenos, quando recebemos cobranças dos pais e professores:

 - Menina! Você precisa ser mais comportada, mais aplicada, mais limpinha, menos gulosa, mais estudiosa, mais obediente e pintar dentro da linha.

Diante da impossibilidade da perfeição, nessa fase, me lembro de ir dormir com 100% de mim se achando a pior menina do mundo.

Na adolescência a coisa ficou pior:

Precisava  ser mais magra, mais bonita - apesar de usar aparelho, de usar óculos e de ter espinhas – causadas claro, pela minha insistência em comer chocolate e a "falta de cuidado" em não lavar o rosto com o sabonete certo 950 vezes ao dia. 

Precisava ser a primeira da classe e o mais cruel de tudo: Essencial que eu fosse meiga e delicada.
Fase de jogar minha cara espinhenta no travesseiro com 195% de mim tendo a certeza de que era  a pior mocinha do mundo.

O tempo passou, virei  quase adulta  e outros dramas surgiram: Não passei na USP nem no concurso Banco do Brasil. Fiz  faculdade de propaganda – e olha o absurdo: Não aparecia na televisão!

Adorava a noite, adorava os amigos, adorava cantar, bebia moderadamente, fumava moderadamente.
Tinha um namorado gordo e careca, que não queria saber de casar.

- Nossa!! Como assim?
- Namora, viaja com o namorado e não vai casar!
- Mas não é mais virgem?
- Deu pra esse cara feio?
- Fim dos tempos!

Pra piorar, na cabeça do meu pai inconformado, eu trabalhava no Mappin e ele "não tinha pagado a faculdade para eu acabar balconista."

Cabeça mergulhada no travesseiro e 80% de mim jurava mser uma vadia, deflorada e solteira, que não conseguia agradar ninguém no mundo; 10% sentiam uma raiva danada de não poder ser feliz assim e o os 10% restantes ficavam buscando uma forma de explicar pro "Seu" Doca que o lugar que eu trabalhava era a ALMAP, não o Mappin!!

Aí, eu me casei!  Porque um dia, quase todo mundo casa! Cobranças se multiplicaram como a poeira em cima da minha cômoda: Sua casa não é tão bem decorada- como a daquela amiga rica que casou ano passado e tem 15 empregados - nem tão arrumada como a da sua tia - que tem "toc". Sua comida não é boa como a da sua sogra e sua roupa tá mal e porcamente lavada e passada.

 Momento  em que pousava  a cabeça no travesseiro – que diziam empoeirado e contaminado de ácaros – e enquanto 70% de mim se sentia a pior dona de casa do mundo, os outros 30%  pensavam em tudo o que tinha pra fazer no dia seguinte.

Vieram os filhos !!!  Muito Plasil e Rivotril para lidar com os "palpitólogos" de plantão. Eles – os filhos - não eram tão educados como deveriam. Eu era uma mãe  ausente, negligente, irresponsável. Eles, os filhos,  não andavam arrumadinhos como os outros priminhos, filhos daquelas primas que passaram a viver a vida em função de marido e filhos.

- Fulana é uma graça, né gente? Os menininhos dela, tãooo educadinhos.
- Mas ela é muito responsável, nossa! Vive pra eles.
- Nossa, que diferença da Beltrana, né?  Um absurdo Ela tem empregada, trabalha fora. Folgada, viu?

A noite, apoiava a cabeça no travesseiro e 50% de mim ficava culpada, 25% com ódio mortal das críticas e 25% com uma pena danada daquelas coitadas que abdicaram dos sonhos e da vida pra lavar cueca e limpar bunda de criança.

Acabei me separando e claro, resolvi  continuar com a vida.  Ahh !! Que dureza. Ouvia dioturnamente a ladainha:

- Você sai demais;
- Namora demais;
- Gasta demais;
- Viaja demais, terceiriza demais;
- Deixa a casa na mão de empregada, deixa os filhos nas mãos de babá.

Inconformada, de madrugada, no travesseiro, 40% do que me restava de consciência lúcida sentia culpa, os outros 60% pensavam em como curar a ressaca para voltar ao trabalho no dia seguinte.

Aliás, no trabalho, não era diferente. Na cabeça dos chefes,   eu sempre fazia menos relatórios do que a outra gerente, menos visitas do que aquele contato que não sabia fazer mais nada da vida a não ser vender reclame na "rádia". Faturava menos que aquele colega, mal amado, que nunca queria voltar pra casa por conta da mulher megera. Não limpava direito a mesa, ou a sala, ou o escritório. Usava muito o telefone para assuntos considerados particular - mesmo que significasse dizer para a enfermeira da escola do meu filho quantas gotas de Tylenol ele estava acostumado a tomar - Usava decote de menos , tratava muito bem meus subordinados e não conseguia ser hipócrita diante das peladonas sem caráter que conseguiam vaga como diretora a certa altura e flacidez da vida.

Nessa altura,  45%   eram culpa, 20%  eram pena da falta de perspectiva dos companheiros medíocres de trabalho e os outros 35% mandavam, mentalmente, todo mundo a merda.

No geral, a dita sociedade nos impõe algumas posturas chatas e politicamente corretas além da conta.  Temos que fazer doação, que reciclar o lixo, ser voluntário e partidário, não podemos gostar de novela, nem do BBB. Precisamos perdoar os que nos feriram, e dar a outra face.

Nesses casos, hoje em dia, deito a cabeça no travesseiro e 5% de mim sentem culpa – pelo lixo reciclado. 45% lamentam as cobranças e 50% sentem um misto de raiva e pena das pessoas que cagam essas regras.
E como se não bastassem os problemas reais, o mundo virtual nos bombardeia de cobranças através dos  malditos pedidos de compartilhamento pelo autismo, pela síndrome de Down, pela paz mundial, pela tia Cotinha que está internada com Alzheimer e nem sabe que você existe mais.

Amigos, que nunca vimos mais gordos – ou mais magros – nos propõem brincadeirinhas ridículas pelo câncer de mama, pelo dia do trabalho, pela Dorinha, que perdeu os dentes em mais uma briga com o cretino do marido.

As beatas hi- tech com aquelas orações - sempre muito poderosas e infalíveis - que te abençoam até a página dois, desde que você repasse para 4.678 pessoas. Caso não o faça, seu mundo vai acabar em barranco, seu dinheiro vai aparecer na cueca do Sarney e seu Santo protetor será Murphy.


Finalmente, diante dessas situações, posso afirmar que deito meu rosto – com espinha ou não – no travesseiro - empoeirado ou não e 100% de mim sentem uma culpa danada de não ter colhido a tempo as plantações da minha FarmVille.

Um comentário:

  1. ADOREI!!!!!!!!!!
    O final foi espetacular: Nesse caso, deito meu rosto – com espinha ou não – no travesseiro - empoeirado ou não e 100% de mim sente uma culpa danada de não ter colhido a tempo as plantações da minha CityVille.

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