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Blog de histórias reais e de ficção.
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Donna Summer, Mac Arthur e uma saudade.




Quando soube que Donna Summer tinha morrido, senti saudade antes de sentir tristeza. Saudade de um oásis em meio ao caos que foi minha adolescência.

Era Janeiro de 79 e eu estava de férias em Pontal, hospedada  na casa da minha querida tia Neide. Vó Carolina ainda era viva e impunha, mesmo sem querer, sua presença. Sempre muito quieta, mas igualmente forte, passava a maior parte do tempo na sala de jantar onde ficava a vitrola. É, vitrola!

Ao lado dela - da vitrola, claro - durante todo o tempo em que lá estive, repousava a capa do LP duplo, Live And More, lançado pela Donna no ano anterior. Era ao som de Mac Arthur Park que eu acordava todos os dias.

Lembro-me de abrir os olhos nos primeiros acordes e sentir uma alegria imensa. Estava na cidade que eu tanto amava, cercada de pessoas que me tratavam com tanto carinho.
Não demorava pra minha tia entrar no quarto, avisando que o café estava servido. Sempre carinhosa, sentava-se a beira de uma das camas e queria saber o que tínhamos feito na noite anterior.

Meu dia começava bem. Muito bem para a uma menina, adolescente, que estava vivendo a felicidade inexplicável da conquista do primeiro amor. E o primeiro amor morava na casa da frente!

Pulava da cama, abria um pedacinho da janela e espiava. Como era fácil ser feliz: Uma janela entreaberta e uma possibilidade.

Não me lembro de ter vivido emoção assim. Não me lembro de ter amado com tanta ingenuidade, com tanta entrega, sem expectativa.
Nessa época o namorar era feito de beijos, abraços e mãos entrelaçadas. Não havia possibilidade de qualquer avanço. A delicadeza da lembrança talvez se deva exatamente a isso.

No meio do mês, como todos os anos, fomos para o Guarujá. Minha prima Rosana, eu, meus pais e irmãos. Foram 15 dolorosos dias, na praia, longe dele, da Donna e do Mac Arthur. Dias em que incansavelmente negociava com meu pai a volta à Pontal para passar os últimos dias de férias.

Sinto ainda forte emoção quando me lembro do dia que voltei. Era noite, o céu estrelado de forma inacreditável, Tio Luiz na calçada com o braço em volta da  tia Neide.
Meu olhar vagava entre o céu e a porta da casa do meu amor. De repente ela – a porta - se abriu e rapidamente, numa brincadeira, me esconderam. Posso vê-lo atravessando a rua, num passo desengonçado de menino que cresceu demais.

Que delícia lembrar a cara que ele fez quando me viu! O sorriso, que era lindo, se abriu e o olhar, que sempre foi penetrante, sorriu junto.

O desejado beijo não pode ser dado. Não naquele momento.

- Nãoo, não na frente dos tios!

Ah, como era bom estar apaixonada e ter esse amor correspondido, como é bom poder lembrar isso com tanto carinho.

Vivemos uma história linda, naqueles dias quentes de verão e céu exuberante. Simples, sem planos abstratos e com todos os sonhos concretos.

A vida não nos quis juntos. O amor não foi suficiente, ou talvez, simplesmente tivessem outros planos pra nós.

Cada um seguiu a sua maneira.
Fiz minha família, ele a dele.
Fiz carreira, ele desistiu.
Sou feliz, mas não posso afirmar o mesmo sobre ele.

Nunca mais nos falamos. Nunca mais!

Nunca mais nos vimos. Só a distância, há 5 anos!

Mas a verdade, é que isso não tem a menor importância. O que conta é a emoção que pude viver graças ao que vivemos. Emoção que ainda posso sentir quando e onde quiser.

Quando Donna morreu, uma parte dessa história se foi, mas pra minha sorte não levou nada com ela. Só deixou:


Uma música, uma lembrança e uma saudade.







3 comentários:

  1. É Chrislaine, Donna Summer marcou mesmo!

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    Respostas
    1. Vc falou uma coisa bem certa. Antes da tristeza pela morte da Donna Summer, senti saudades. Saudades da música dela que marcou um tempo revolucionário para mim. Saindo debaixo das asas de pai e mãe, ganhando o mundo, descobrindo o prazer da liberdade, de andar sozinho, de assumir as próprias responsabilidades perante a vida, o mundo. O prazer de caminhar pelas próprias pernas, de perceber um mundo de possibilidades.... Donna Summer fez a trilha sonora de boa parte de minha adolescência... como não ter saudades???

      Bjs, Ferraz

      A propósito, belo texto mais uma vez... rsrsrs

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