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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Brilho eterno de uma mente sem lembrança.



Caso tivesse que definir o filme numa frase, diria que se trata da escolha entre  esquecer um amor para sempre e sofrer por um amor que não é mais correspondido. Se questionada fosse, há alguns anos sobre qual seria a minha escolha, diria sem pestanejar: esquecer. Hoje, ciente de que somos o resultado das experiências vividas, escolheria o sofrer.

Houve um tempo, lá na minha adolescência, que tive muita vontade de apagar um certo moço da minha vida. Na época, dentro da minha ingenuidade, pensava: “Ah, como eu queria uma maquininha que abrisse minha cabeça e tirasse o fulano de dentro...”

Quando assisti “Brilho Eterno”, me lembrei imediatamente daquele desejo que me acompanhou por alguns meses. No filme, Joel e Clementine, personagens vividos por Jim Carrey e Kate Winslet, formam um casal apaixonado que não consegue se relacionar de forma tranquila. Diante do fracasso da relação, Clementine decide se submeter a um tratamento experimental para esquecer definitivamente Joel, que quando descobre o feito da amada, por vingança, resolve fazer o mesmo. No meio do processo, no entanto,  ele se arrepende e começa uma jornada para levar Clementine aos “lugares” de sua mente aonde ela não possa ser apagada.

Diferente de Clementine e Joe, o par da minha história e eu, não tínhamos problemas no relacionamento. Era ótimo, mas ele nutria uma necessidade de estar com muitas meninas ao mesmo tempo e isso não fazia parte do meu sonho, claro. Também nos tornamos facilmente estranhos. Não houve o cuidado de guardar na memória. 

Brilho Eterno” flerta com o bizarro para surpreender o espectador.  O título do filme - lançado em 2004 - foi inspirado no poema “DE ELOISA PARA ABELARDO” de Alexander Pope (Inglaterra,1688 – 1744). O diretor é Michel Gondry mas a grande estrela é o roteirista Charlie Kaufman (de “Quero Ser John Malkovich”) que ganhou o Oscar de roteiro original pelo trabalho.
 
O filme faz uma crítica ao comportamento prepotente que tenta, invariavelmente, recriar a memória ruim para evitar a dor, sem entender que assim como o amor, a dor também nos define.
Mas, muito além de uma história inusitada, sobre um tratamento alternativo e estranho, muito mais do que a tentativa de criticar o comportamento humano, trata-se, na minha opinião, de uma grande história de amor. Mesmo que pareçam incompatíveis, Joel e Clementine vivenciam um amor intenso, verdadeiro – aquele tipo que apesar de todo o esforço, não conseguimos apagar de nossas lembranças. Isso fica claro no decorrer do filme.

Num dado momento do filme, a personagem de Kirsten Dunst, declama parte do poema de Pope:

“Feliz é a inocente vestal / Esquecendo-se do mundo e sendo por ele esquecida / Brilho eterno de uma mente sem lembranças / Toda prece é ouvida, toda graça se alcança”.

O poema sugere que a única maneira de ser feliz é esquecendo e tornando-se esquecido e que a graça só existe na ausência da lembrança. O autor fala sobre mentes imaculadas e corações resguardados, que teoricamente não são assombrados por lembranças daquilo que fomos um dia e que miseravelmente, nunca mais voltaremos a ser.

O fato, é que não temos como “abafar os ecos de relações ou circunstâncias” que um dia vivemos. Nos esforçamos para esquecer, mas basta um cheiro, um lugar, uma música e somos transportados aquele momento de paixão que quase fez nosso coração parar.

O que seríamos hoje, caso não tivéssemos vivido experiências tão importantes, mesmo que tenham significado noites em claro, dor no peito, lágrimas infinitas? Abrir mão dessas lembranças, seria correr risco de abrir mão de muito do que somos.

Diante disso, concluo que o “Brilho” que se perpetua nesta mente sem lembranças é Clementine para Joel e Joel para Clementine.

Das curiosidades: Há teorias de que cada cor dos cabelos de Clementine foi usada para expressar um estado de espírito diferente. O azul representaria ora a harmonia de Clementine com seus próprios sentimentos e com a relação estabelecida com Joel, ora a frieza da personagem. O verde, seria a esperança depositada no começo do relacionamento, o laranja nos momentos de crise e o vermelho como o ápice do amor entre os dois personagens.

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