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Blog de histórias reais e de ficção.
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Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



quarta-feira, 9 de março de 2011

A Maldição de 05 de Março - 1.955


1.955


Era um dia quente em 1955. Olímpia esperava ansiosa a chegada do seu terceiro filho. Dez anos o separavam da irmã do meio, Suzette e quatorze de Plácido, o mais velho. Miguel, seu marido não parecia muito feliz por ter mais uma boca para alimentar.
O menino nasceu com mais de 5 kg e recebeu o nome de Ferdinando em homenagem ao avô materno.
Na adolescência freqüentou a escola pública do bairro pobre onde morava na Capital. Adquiriu maus hábitos de comportamento e nunca foi corrigido pela mãe que o achava o mimo da casa. A irmã, sempre mal humorada, vivia sozinha, sem amigos. O irmão mais velho saiu de casa assim que pode, casou-se, e se tornou um grande profissional. Da família só carregou o nome. Raras vezes aparecia para saber como eles estavam.
Já adulto Ferdinando conseguiu cursar faculdade de administração e acabou trabalhando em grandes empresas. Era competente, pontual e estava sempre muito bem humorado.
Teve duas namoradas sérias. Ficou noivo da primeira, esteve bem perto de se casar com a segunda não fosse pela resolução que ambas tomaram: Acabar com aquilo antes que fosse tarde demais.
Egoísmo era a palavra que norteava seus relacionamentos amorosos, fossem sérios ou eventuais. Apesar de engraçado – sempre tinha uma piada pronta pra qualquer assunto- a convivência era muito difícil. Tinha o péssimo hábito de mentir.
Adorava manter relacionamentos paralelos. Quanto mais escondido e proibido melhor. A mentira fazia parte da sua rotina e alimentava de forma doentia seu ego.
Era absurdamente "mão de vaca" e extremamente materialista. Nada, além da mãe, tinha mais importância do que seu carro que fazia questão de trocar todos os anos pontualmente em setembro. Lavava e aspirava o veículo adorado todos os sábados, mesmo que chovesse. 
Almoçava em casa todos os dias e vestir pijamas fazia parte do ritual. Tinha gavetas forradas de camisetas e tantos ternos e camisas que não cabiam no armário. Incapaz de dar qualquer peça de roupa, mesmo velha. Era quantitativo.
Tirava férias duas vezes ao ano, impreterivelmente em Abril e Outubro e o destino era o nordeste.
Aos sábados ia buscar e levar a namorada em casa e nunca descia para tocar a campainha apenas buzinava. Durante a semana, se resolviam sair,  no máximo a deixava num ponto de ônibus. Não era dado a delicadezas.
Quando a namorada cogitou, depois de cinco anos, que já talvez pudessem se casar, ele assentiu - a contra gosto- e até concordou em comprar um imóvel, desde que fosse ao lado casa da mãe alegando que precisava continuar almoçando lá todos os dias.
- "Minha gastrite, você sabe. Não posso comer em restaurantes." 
Compraram um imóvel pequeno no fim do mundo, com previsão de entrega para três anos. Viram outros, com prazo menor mas, sair da casa da mãe,ter um compromisso assumido o deixava apavorado e ele precisava de tempo para aceitar a ideia.
A mãe, quando soube da compra do apartamento, teve uma crise emocional tão grave que foi parar na UTI.  Dependia dele. Tinha pavor de perder o arrimo da família.
Quarenta meses depois, com o apartamento pronto e a data marcada, ele decidiu que precisava de mais alguns meses e propôs um pequeno adiamento. As coisas eram feitas sempre a sua maneira e há seu tempo.
O casamento foi cancelado pela noiva, exausta das esquisitices dele,  para alívio de todos, inclusive o dele.
Nunca mais se relacionou, suspeita-se que ainda viva o luto da perda da mãe há 15 anos. Alguns apostam na possibilidade de nunca ter assumido sua homossexualidade por medo da reação da família. Outros afirmam que o egoísmo o impede de se relacionar com qualquer coisa que emita opinião.
Este pobre nascido em 05 de março continua com sua vida medíocre. Desempregado e praticamente sem família, vivendo sozinho na mesma casa onde nasceu. Provavelmente vestindo pijamas na hora do almoço e lavando o carro, agora velho, aos sábados.

Leia também: A Maldição de 5 de Março - 1.964 

2 comentários:

  1. É incrível como o ser humano tem uma aversão ao desapego.
    Não se desfazem nem do que faz mal.

    E eu conheço tantos Ferdinandos...
    que não vivem, que não amam, que não se deixam amar.
    A vida é bela e é pra ser vivida!
    Qdo as pessoas vão se dar conta disso?
    Qdo estiverem a beira da morte e perceberem que nada construiram?

    Infeliz daquele que se julga auto suficiente ou ocupado demais pra ouvir o próximo.

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  2. Cris querida,

    Infelizmente há muitos Ferdinandos por aí...

    São seres infelizes e que não conseguem fazer ninguém feliz!

    Gosto da sua forma de escrever, Cris! Parabéns!

    Obrigada por seu carinho ao colocar um poema meu por aqui! :)

    Você e sua família também são amigos muito queridos!

    A minha sogra sempre falava muito bem de vocês!

    beijos carinhosos,

    Neli

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