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Blog de histórias reais e de ficção.
Um lugar para expor opiniões que provoquem dor ou delícia!
Qualquer semelhança com histórias ou comportamentos reais poderá ter sido mera coincidência. Ou não!



sábado, 21 de dezembro de 2013

O dia em que o mundo acabou.


Nunca uma profecia foi tão acertada. Nunca! Não pra ela.

Quando acordou pela manhã, no dia em que os Maias profetizaram o fim do mundo, não imaginou que seu próprio mundo fosse acabar.

Parecia um dia como outro qualquer, a não ser pelo fato de que o marido já estava de férias e ela ainda não.
Levantou cedo, caminhou até o banheiro. Estava animada com a festa de logo mais a noite. Rever  tantos amigos queridos, jogar conversa fora e rir muito a meia noite quando, finalmente, o mundo não acabasse.

Em baixo do chuveiro ouviu o despertador do celular do marido – estava carregando na tomada sobre a pia – e resolveu desligar para que não atrapalhasse o sono dele. Pegou a toalha, secou as mãos, foi até a pia e digitou, com a pontinha do dedo, a senha para desbloquear. Quando a tela clareou, demorou alguns segundos para entender o que via:
Um balão, desses de diálogo de gibi, verde e dentro uma frase:

“Amei ser beijado, a vida traz coisas que não esperamos, mas....”

Paralisada leu mais uma vez e outra e outra. Não conseguia entender aquilo. Quem escreveu? Ele? Pra quem?
Com as mãos trêmulas e coração aos saltos memorizou o número do telefone e começou a procurar por ligações feitas e recebidas. Achou algumas. A mais antiga, tinha quase dois meses.

Ajoelhada, chorou copiosamente e depois riu diante da ironia da data.

Precisou de tempo para se recuperar. Respirou profundamente, pensou em como iria abordá-lo.

Pensou em fingir que não tinha visto.
Pensou em sair do banheiro e cobrir a cara dele de tapas.
Pensou em jogar todas as suas roupas no meio da rua.
Pensou que seria insuportável se ele fosse embora.

Saiu calmamente do banheiro, sentou-se na cama – ele ainda dormia – mexeu em seus cabelos até que despertou.
Percebendo suas mãos trêmulas, sentou rapidamente na cama e perguntou:

- O que aconteceu?
- Eu vi uma mensagem no seu celular
-Hum, a gente precisa conversar.

E contou o reencontro, dois meses antes, com uma conhecida de vinte anos que não via há muito tempo. Contou sobre como isso impactou a vida dele, em como sentiu necessidade de falar com ela, em vê-la. Contou sobre as mensagens que trocaram e os dois encontros que tiveram na padaria próxima ao local de trabalho dela.

- Você está apaixonado? Quer se separar.
- Não, não estou apaixonado. Nem nunca me passou pela cabeça me separar de você. Eu te amo.
- Como?  Porque fez isso, então?
- Não sei.  Senti uma necessidade. O jogo da sedução. Nada mais que isso.
- O que mais aconteceu?
-Nada, ontem quando nos despedimos ela me beijou.
- E você amou! Disse de forma sarcástica, numa referência ao texto da mensagem.
- Não. Não gostei. Mandei pelo jogo mesmo.
- E o que pretende agora?
- O que você quer que eu faça? Perguntou
- Quero que ligue para ela agora, diga que vi a mensagem, que você me contou tudo e que não vai mais vê-la.
- Ok.

Passaram o resto do dia conversando. Sobre tudo, sobre eles, sobre a vida. Riram, choraram, se abraçaram, se beijaram, fizeram planos. Comprometeram-se. Prometeram.

Tentaram dar um tom de normalidade em vão. Estavam deslocados.

Ela conseguiu entende-lo.
Ela sabia muito bem o sabor do jogo da sedução.
Ela mesma tinha passado por isso meses antes, com uma única diferença: não teve beijo.
Ela fez questão de deixar claro que seu entendimento se baseava na experiência vivida. 

Deixou claro que não havia perdão, apenas a compreensão da fraqueza humana.


A explosão provocada pela descoberta, fez com que as linhas paralelas em que caminhavam sofressem  um pequeno desvio. Pequeno mas suficiente para que, em menos de um ano, se tornassem praticamente desconhecidos. 
É, no dia 21 de dezembro de 2012, o mundo realmente acabou. O eles!

Um comentário:

  1. ADOREI O TEXTO, PRINCIPALMENTE A PARTE EM QUE NÃO HÁ PERDÃO... MAS SIM A COMPREENSÃO!!!!
    beijocasss

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